19 novembro 2017

Angola - #7.6

Dia looongo este, mas que na realidade ainda ia praticamente a meio...
Por volta da clássica hora de almoço, chegamos àquela que antigamente foi conhecida como Vila Mariano Machado, a cidade da Ganda.
Esta é o centro de um município que faz fronteira com as províncias de Huambo e de Huíla,  e conta com cerca de 300 mil habitantes, nitidamente muito jovens.




São várias as notícias que apontam para o desenvolvimento industrial e económico do município da Ganda, mas a realidade, em 2010 era de uma cidade que tinha estagnado nos anos 70, onde apenas aqui e ali se via alguns sinais de reconstrução.
Por outro lado, já não eram muitos os edifícios que mostravam sinais da guerra, que tinha terminado apenas 8 anos antes.

A escola secundária e o hospital são dois edifícios, nitidamente do período português, recuperados e em funcionamento.
No entanto, talvez não fosse ainda tempo de testar o nível de funcionamento deste hospital...




Foi por aqui que o meu sogro viveu uma parte da sua vida, enquanto jovenzinho.
O sentimento de proximidade ao local era forte e a facilidade, e vontade, de explorar alguns sítios era grande.
Alguns sítios que eu, normalmente, não atravessaria. Nesta viagem, no entanto, passaram a sê-lo.



A cidade da Ganda foi mais uma das pequenas localidades que nasceu e cresceu devido à passagem da linha de comboio, o Caminho de Ferro de Benguela, que atravessa todo o país, ao longo de 1300 km.
Há cerca de 100 anos, os primeiros portugueses que se instalaram na região foram um pouco mais para o interior, dada a abundância de água e assim usufruir de melhores condições de produção agrícola.
Com o comboio, e também a estrada, a passar mesmo ali, houve um deslocamento da população para a vila, que foi crescendo.
Esta ligação é muito notória pelo alinhamento das casas, que têm uma distribuição ortogonal relativamente à linha.




Mas se era assim há 50 anos, agora continua a ser.
Em 2010 o comboio ainda não passava por ali, pois o troço até Huambo só foi inaugurado em 2011, mas a população reúne-se, em pequeno comércio e indústria, à sua volta.
Estruturas bastante precárias, com estacas de madeira e telhado de chapa de zinco, garantem abrigo para (quase) tudo o que se possa precisar por ali.




Lixo? Sim, muito e por todo o lado.
Algo de preocupante a vários níveis e que demonstra a falta de organização (e de meios?...) municipais.
Mas as duas fotos seguintes, mais do que o lixo, mostra um levantamento de pó e areia, quase do nada, que apareceu de repente e que desapareceu quase com a mesma velocidade.
Um vento forte, que varreu a terra durante alguns segundos e que incomodou a sério. A nós, dentro do carro, bastou fechar os vidros, mas os dois miúdos que se vê na primeira fotografia correram a bem correr...



Do lado norte da cidade (norte, relativamente à linha de comboio) ficava (fica?) a zona mais desenvolvida.
Além de grandes avenidas, mais uma vez todas paralelas à linha de comboio, onde foram construídas as casas da população mais endinheirada, registo de quatro edifícios que se destacam.

O primeiro, um edifício muito interessante arquitectonicamente, que foi difícil perceber o que era... mas cheguei lá...
Pela torre, que se destaca da fachada, diria que se tratava de uma igreja, mas não. É o edifício dos Paços do Concelho.


O segundo, já recuperado, consegue-se facilmente perceber o que é, pela inscrição frontal: Policlínica 26 de Julho.


O terceiro, a antiga igreja cristã.
Não cheguei ao ano da sua construção, mas dada a informação inicial sobre a origem de Mariano Machado, diria que será do primeiro quartel do séc XX...


O último, a escola primária nº 37.
Este também tinha sido um edifício recuperado muito recentemente pois em 2008 ainda estava fechado e sem telhado.


E foi por aqui, numa das largas avenidas, que almoçamos.
Num quiosque/esplanada, coberta por chapa e instalada num descampado, que comemos umas boas sandes mistas acompanhadas por umas fresquíssimas Super Bock.
É que se para comer a oferta não era muita, para beber... era só escolher. Cerveja, sumos e vinhos, portugueses.
Todos os dias Angola me surpreendia...


O que por esta altura já não me surpreendia era a enorme quantidade de crianças que se via.
No entanto, estas duas fotografias, feitas mesmo à porta do "tasco" onde almoçamos, não deixavam de ser algo raro: crianças que posavam para a fotografia.
Também curioso, muito curioso, o facto do menino ter vestida uma camisola, já muito coçada, do Porto.
Do FCP, carago! (ui, carago não, carago ;)



Barriga mais aconchegada, continuamos viagem em direcção a Huambo...

... mas não antes de um novo desvio, que ficará para a próxima ;)


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