12 outubro 2012

Down the stream

Destino: foz do rio Leça... em forma de caminhada.

No sábado passado já acordei com vontade de caminhar no sentido descendente do rio, mas não pensava chegar tão longe.
Chegar ao nível zero...



Há uns anos que tenho o objectivo de registar fotograficamente todas as pontes do rio Leça.
Há já uns longos anos... depois de me ter passado pela mãos um livro de fotografia sobre o assunto. Um livro do início do século... XX.
Este (ainda) não é o resultado desse projecto. No entanto, e conhecendo-me, parece-me que deve ser o que mais se vai assemelhar com tal durante muito tempo...



Para este mesmo sábado tinha recusado um convite para uma caminhada na zona das Fisgas de Ermelo, em Mondim de Basto.
É que depois de ter chegado à nascente, a foz do Leça tinha sido traçada como o próximo destino.
Além disso, o pequeno trilho, de apenas 10 km, definido numa zona que conheço razoavelmente bem, não me atraiu o suficiente. Mas deve ter sido muito interessante e estou à espera da reportagem do Daniel, no local do costume, para perceber o que perdi ;-)



Mas se perdi por um lado, ganhei por outro!
Começando novamente em Alfena, em casa, arranquei mais uma vez em formato de reconhecimento, a tentar acompanhar ao máximo as margens do rio.
A dificuldade disto é que por vezes é preciso voltar para trás depois de já ter avançado mais de um quilómetro. No total, "pelas minhas contas" devo ter feito cerca de 7 km a mais...



Para jusante, o "passeio" é bem diferente.
O rio tem mais água, é mais largo e tem pontes bem maiores. Antigas, de pedra, outras modernas, de betão, às vezes umas por cima das outras.
O vale, em algumas zonas fica mais estreito. Isto normalmente implica que haja quedas de água mais pronunciadas, sempre bem aproveitadas (nos antigamentes, pelo menos) em dezenas de moinhos.
Uns pequenos, uns maiores, alguns que se parecem com casas tradicionais e até alguns com base cilíndrica, que parecem moinhos de vento.



Umas das zonas mais interessantes e curiosas fica já no concelho da Maia, junto à A3.
É cerca de 1 km seguido de casas e moinhos, infelizmente quase todos ao abandono, em pedra de granito, ainda com caminhos de acesso do tempo da "outra senhora".
Sem dúvida que vale a pena conhecer!
Pena que também é nesta zona que alguns dos trilhos junto ao rio não têm saída, e foi precisamente aqui que fiz grande parte dos retrocessos no percurso.
Mas se pensar que um dos objectivos do dia era... andar, então fica tudo bem outra vez ;-)



Uma das coisas que é também muito notória enquanto se acompanha o rio no sentido descendente, é que é a partir do momento em que se sai do concelho de Valongo e que se entra no concelho da Maia, que a poluição aparece em força.
As águas ficam escuras e... cheiram verdadeiramente mal!
Mas é curioso que as margens continuam bonitas. Floridas e até com pormenores interessantes, como na fotografia seguinte (eu sei, não se nota...), com ovelhas a pastar.



Por esta altura, era meio dia e meia, e já tinha passado dos 12 km.
A barriga já avisava que estava na hora de "meter combustível"...
Havia que fazer uma paragem num tasquito de beira de estrada para uns rojões no prato e uma "água do Leça... do Balio" ;-)
Que bem que soube!
Mas havia que continuar...




Numa das zonas mais poluídas e mal cheirosas de todo o percurso, já em Matosinhos, perto da Ponte da Pedra, uma das fotografias com resultado mais interessante:
Um coração de areia!
Os patos também andavam por ali, mas esses quase nem se notam... a não na ser na imagem de cima, paradinhos, em equilíbrio, no meio do rio.



Chegado à terra da "água dourada mais apetecida", o primeiro ponto de interesse, e um dos mais importantes de todo o percurso, é o mosteiro de Leça do Balio.
O imponente edifício da igreja data do séc. XIV, mas o mosteiro em si já vem de mais "longe", do séc. X...
Sede de uma ordem religiosa-militar, o mosteiro representava precisamente todo um imenso poder, conseguido graças à fertilidade dos campos agrícolas banhados... pelas águas do Leça.
Agora serve para cerimónias chiques, como o casamento que estava a acontecer quando por lá passei.



E se até ali o percurso foi sempre interessante, quando se chega à estalagem da Via Norte... a coisa muda de figura.
O meu interesse era acompanhar as margens do rio e não chegar à foz o mais rapidamente possível. Assim, tive que seguir o único percurso disponível, a estrada nacional, a N13.
E não é fácil. Pior, é perigoso!
Os carros passam "a abrir" e em certos sítios é preciso espreitar... e passar a correr, pois as árvores e mato bloqueiam completamente a berma.
É incrível como de carro não se notam estas coisas!...



Ainda assim, e com todas as dificuldades, cheguei a Moreira da Maia.
Quando passei na ponte de Moreira já começava a sentir algum cansaço. Já tinha passado dos 30 km e ainda havia muito caminho pela frente...
Mas aqui surgiu outro problema: não há, aparentemente, caminho junto ao rio durante vários quilómetros. Digo aparentemente porque no mapa que eu estava a seguir, no GPS da Nokia, não havia qualquer caminho e, como já se começava a fazer algo tarde, não dava para continuar a "reconhecer".
Resolvi então seguir um pouco mais "a direito", ainda que tenha feito mais uma paragem, para reabastecimento, no centro de Cruz do Bispo.
Isto de andar não se faz sem "gás"!...



Atingi a foz do rio já o sol estava a pôr-se. Oito horas e vinte minutos depois de ter arrancado de casa.
Descontando os tempos de paragem para reabastecimento, foram sete horas e quarenta e dois minutos a caminhar.
É muito tempo, mas se pensar que foram 40 km, contados até à marina do Clube de Vela Atlântico, não foi mau. Uma média acima dos 5 km/h.

Se aos 40 fiz 40... quilómetros, havia que continuar um pouco mais.
Chegar à praia. À praia de Leça.
Venha a boleia para casa. Por hoje chega! ;-)

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