É sempre mais fácil ficar de fora, a assistir, a ver como param as modas. Mas este é um assunto que, embora parecendo simples à partida, não o é de todo.
Depois de andar a ouvir e ler sobre o tema, resolvi também escrevinhar umas linhas sobre a nova lei de restrição de fumar em determinados locais.
Parecia-me que isto não seria mais do que uma simples questão de bom senso.
Que homens de bom senso (não falo em cultura) perceberiam facilmente que não deveriam incomodar os outros, quando em sociedade.
Mas não. Não é assim.
Homens cultos, que se dizem democráticos, querem manter a lei do “eu quero, posso e mando!”
“Eu quero fumar, eu posso fumar e os outros… os outros que se ponham.”
Se os fumadores sabem que incomodam, porque continuam a faze-lo?
Se a grande maioria dos próprios fumadores se sentem incomodados com o fumo dos outros, porque continuam a faze-lo?
Se os fumadores sabem que o cigarro faz mal à saúde, deles e dos outros, porque continuam a faze-lo?
Porque “eu é que sei!”, respondem normalmente. “Porque tenho liberdade para tal!”
Pois é, mas não pode ser assim… digo eu, que sou eu.
Eu não sou fumador. Nunca fui. Nunca conseguiria ser.
O meu pai era (era…) fumador. Daqueles bons! Dos que fumavam 3 maços por dia. E começava a fumar desde cedo, ainda antes de sair da cama. Lembro-me que quando era miúdo acordava muitas vezes sem conseguir respirar porque o fumo, que vinha do quarto dele, me cortava a respiração. Tinha que me levantar e ir para a janela respirar ar puro. E não, não tenho problemas respiratórios. A minha garganta apenas fazia um
shut-down automático, proibindo o ar poluído de entrar.
Era meu pai e também um “bom fumador”. Daqueles que nunca deu ouvidos a ninguém. Os argumentos de estar a incomodar os outros nunca foram válidos e, nessa altura, os argumentos científicos, do mal que o fumo do tabaco faz, ainda não eram plenamente fundamentados.
Muitos textos de fumadores que tenho lido alegam o “direito” de fumar por serem uns grandes pagadores de impostos.
Será? Não me parece!
É que até os impostos que pagam são um engano para o orçamento.
Se por um lado os fumadores fazem entrar mais dinheiro nos cofres do estado são, por outro lado, os causadores de lá se ir buscar uma grande fatia dessa mesma verba. Os tratamentos e estudos para as doenças associadas ao fumo, nomeadamente os cancros, são um sugadouro de dinheiro. Este é um tema que normalmente é deixado de fora destas discussões. Aliás, o fumar passou recentemente, por si só, a ser considerado pelos médicos como uma doença…
Estes problemas existem. Estão aí.
Mas queremos esquece-los. É mais fácil.
Mas às vezes não podemos. Pois é.
É verdade, o meu pai, aquele grande fumador, morreu… de cancro do pulmão, … do fígado, … dos ossos… devido ao tabaco.
Ah, mas deixou de fumar. Um ano. Desde o dia em que entrou no hospital pela primeira vez, até ao fim…
Nos últimos dias tenho tido algumas conversas com amigos e colegas sobre o tema.
Na última destas houve quem tivesse proposto uma “tentativa de solução”: combater o “fogo com fogo”.
Passar a andar “armado” com um daqueles charutos ou cachimbo mesmo muito mal cheirosos. Quando estiver num sítio em que se sentir incomodado pelo fumo do tabaco, mesmo depois de uma tentativa cordial de resolver o assunto, puxar do charuto e passar a fumá-lo.
Resultaria? … não sei. Talvez.
Mas agora imaginem que em vez de um charuto, fosse “armado” com um bombo.
Do alto de todos os meus direitos constitucionais e democráticos, podia “sacar” do meu
SB Bombo em qualquer espaço, ao ar livre ou em recinto fechado e, começar a… tocar.
E travar uma batida de bombo?
Ah… Satisfação!