Após o almoço em Cabo Ledo o programa de festas previa a visita ao interior do Parque Nacional da Quissama. Ou da Quiçama. Ou...
Se a estrada de Luanda a Cabo Ledo é nova, em asfalto, e até se faz a bom ritmo, os 110 km até Muxima são em terra...
Mas não são de uma terra qualquer. São de laterite, a tal terra avermelhada que cobre imensas extensões angolanas. É constituída por uma grande percentagem de óxido de ferro, daí a sua característica cor ferrugenta!
Sendo praticamente improdutivo, este solo é utilizado essencialmente para tijolos e como tapete de estradas, depois de esmagado em gravilha e bem compactado.
Como eu não gosto nada de conduzir em terra (não !-), e o meu sogro até sabe disso, a condução deste troço ficou por minha conta.
Numa estrada construída por chineses, alguma da sinalização é um pouco estranha, principalmente a que se refere às bermas. Umas bermas abruptas e outras nem por isso. Umas altas e outras baixas.
Embora fossemos a brincar com os desenhos nas placas, esta informação sobre as bermas é muito importante. Nas rectas circula-se bem a 110 km/h, mas nas curvas... nem por isso.
É que o piso é deslizante e o carro nas curvas vai a fugir às quatro.
Mas sempre, sempre, controlado!... ;-)
Oh pra mim a olhar para a loooonga recta à minha frente...
Onde está o Wally?
Melhor: onde estão os primatas Miopithecus talapoin?
Ou... em português: onde estão os macacos?
Estão ali! ;-)
Fotografar estes pequenos macacos, os Talapoins, habitantes naturais da Quissama, não é fácil.
Primeiro, são mesmo pequenos (qualquer coisa como do tamanho de um gato grandinho) e depois fogem a sete pés dos carros e das pessoas.
Segundo informação oficial, além dos talapoins também existem no parque palancas vermelhas, mas destas... nenhum de nós as viu.
O macaco da foto de baixo é apenas um pontinho preto junto ao tronco mais largo da esquerda, na direcção do dedo indicador da Mónica (em cima).
Apanhei-o, com a minha 135 mm! ;-)
Muxima ue ue, muxima ue ue, muxima
Muxima ue ue, muxima ue ue, muxima
Curioso, que este é o refrão de um poema que me está na cabeça desde a infância.
Cantado pelos Duo Ouro Negro, Muxima era uma música que passava muito nas rádios nos finais da década de 70.
(até onde já se estendem as minhas memórias... ;-)
O autor do poema, Carlos Aniceto Vieira Dias, escreveu-o em Kimbundo, mas muito embora os dois músicos a tenham reescrito em bilingue, com umas estrofes em português, não foi isso que me fez fixar mais alguma parte da letra... ;-)
Até agora, o que significava, ou o que era Muxima, passava-me totalmente ao lado.
O registo da entrada na localidade de Muxima, atravessando a sua rua principal, com o antigo forte ao fundo, no topo do morro.
Muxima é uma pequena localidade com uma população residente também ela baixíssima.
No entanto, sendo um actual local de peregrinação, Muxima cresce por alturas de Setembro.
Não vi por lá grandes (aliás, nem pequenas) condições de acolhimento, mas acredito que lá afluam umas largas centenas de crentes em Nossa Senhora.
Mas é claro que os crentes por lá não são como os de cá (e se calhar até são...).
Primeiro, o aspecto visual. Reparem nos trajes das três devotas da fotografia seguinte.
Depois, a própria forma de devoção, muito cenográfica, que mais se assemelha a um ritual de camdomblé...
À entrada (ou melhor, à saída) da antiga fortaleza, esta fotografia também tem a sua história.
Depois de perceber que a maioria dos angolanos não gosta que lhe tirem fotografias, passei (quase sempre ;-) a pedir permissão antes de lhes apontar a lente.
Estas mulheres começaram logo por dizer que não, que não queriam que a imagem aparecesse em Luanda... Quando lhes disse que não era para Luanda, mas para Portugal, já permitiram e até sorriram.
Não percebi!...
Ao procurar informações sobre Muxima na web percebi que a origem e história desta localidade, fortaleza e igreja, não é consensual.
Alguns documentos apontam para que Muxima tivesse começado por ser um entreposto comercial de bens agrícolas e humanos. No século XVI o que estava a dar era o comércio deste "ouro negro" para as américas. Por essa altura, aquilo que existia por lá era mais uma prisão e acampamento das tropas portuguesas.
A fortaleza, na sua entrada, tem a data de 1655 e o nome do capitão Francisco de Navaes. Isto já é uma data posterior ao domínio de N'gola, durante 5 anos, pelos holandeses...
Mas o que mais gostei foram mesmo as vistas do alto do forte.
O vale do Kwanza mais parece um verde oásis, de floresta tropical.
Pena, mais uma vez, o dia não estar muito favorável ao registo fotográfico...
De notar, os três barcos de pescadores, que permitem ter uma noção de escala da imagem.
A origem da igreja da Nossa Senhora da Muxima também está envolta em mistério.
A tal peregrinação actual é devida a um culto popular de uma aparição de Nossa Senhora (da Conceição), que tem correspondência com a própria imagem do altar da igreja.
No entanto, e aparentemente, não há registos da sua construção, pelo que há autores que apontam até para uma origem holandesa. Não me parece (...)
Construída mesmo em frente ao forte, esse garantidamente de origem portuguesa, e junto ao rio, deverá ter sido construída pelos ocupantes portugueses, numa tentativa de subjugar a população ao culto católico e a uma atitude mais dócil e controlável.
Quando por lá passamos a azáfama no interior da igreja era muita.
A época das festas aproximava-se...
Cá fora, no átrio, bem na margem do grande e poderoso Kwanza, as gentes rezavam, conversavam e... brincavam.
Afinal, era domingo.
Estes meninos, ao contrário do que vinha a ser normal, aproximaram-se de mim e da câmara.
Com as suas fisgas, estes dois irmãos acertavam em tudo o que se movesse.
;-)
Estavamos em África, mas a imagem seguinte também podia ser em Portugal:
"Não deitar lixo", está escrito na placa, mas ninguém a entende ou quer entender.
:-)
Para o outro lado, mais para a esquerda, o registo da imagem (se tivesse sido feito) é que dificilmente poderia ter sido feito em Portugal.
Homens a tomar banho na margem do rio, com um total despudor.
Foi a primeira vez que tal vi e achei estranho. Mas rapidamente deixou de o ser...
Já de regresso, a passagem pela ponte militar que ainda vai permitindo a passagem do trânsito, enquanto a nova ponte de betão, construída pela empresa portuguesa Teixeira Duarte, não entra em funcionamento.
Não me parece que falte muito...
De regresso a Luanda e ao hotel Presidente.
Para lá chegarmos, mesmo à entrada da capital, passamos pela estrada mais ... espatafúrdia, mais ... que já vi. Sem descrição ou qualificação possível!
Já era de noite, sem iluminação, pelo que também não há qualquer registo fotográfico.
Voltamos a passar lá outro dia. Pode ser que haja mais qualquer coisinha...
Para fechar, fica o registo nocturno da praça 4 de Fevereiro e do porto de Luanda.
O dia tinha sido longo e só apetecia mesmo era descansar.
Xixi e cama. :-))
1 comentário:
Grande viagem, tambem gostava de lá ir um dia, tenho uma prima a trabalhar em Luanda na Mota Engil e quem sabe um dia...
abraço
Bruno
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