21 janeiro 2021

Atualização de século

Era algo que se impunha há uns tempos: a substituição do autorrádio do Pajero Pinin.

O botão do volume deixou de cumprir a sua função por completo, depois de ter começado, há cerca de dois anos, a falhar: ao rodar, não diminuía ou aumentava o volume de som. 
Este botão tem posições fixas de rotação, dando um toque digital a um elemento analógico. 
Sendo um potenciómetro fechado e selado, não permitia a reparação. Bem, talvez permitisse, se não houvesse mesmo melhor solução...

Tendo sido lançado no final de 1999, o autorrádio ainda vinha com leitor de cassetes.


Lá no meio do painel, o importante botão branco, de <DISP>
Este botão atua o display do computador de bordo, permitindo alternar entre as "imensas" funções disponíveis, de: 
  1. consumo médio; 
  2. distância até reabastecimento; 
  3. velocidade média.
Só por esta razão, não fazia sentido alterar para um outro tipo de autorrádio, mais genérico e eventualmente mais moderno.
Assim, a alternativa foi procurar o que existia no mercado de peças usadas, salvadas de carros abatidos.

E aqui está ele, retirado de um Mitsubishi Space Star de 2002. 
Pós 2000, esta foi uma atualização de século!

Abandonei as cassetes e entrei numa nova era. A era dos CD's :))




 

12 janeiro 2021

Vigésimo

Vinte anos já foram!...
Muito tempo. Muitos quilómetros. Muita porrada.

Brinquedo, em forma de pequena Máquina.

Pajero Pinin, na última voltinha fora-de-estrada, em pleno Arouca Geopark.





Cabreiros e Albergaria da Serra


Miradouro da Frecha da Mizarela

04 janeiro 2021

Angola - #8.13

Último troço deste longo dia, de Huambo a Luanda. 
Afortunado décimo terceiro post, sobre este oitavo dia de visita a terras angolanas ;)

Estávamos na EN230, mais conhecida por Estrada do Catete (embora Catete fique a apenas 60 km de Luanda e a EN230 tenha um comprimento de cerca de 1100 km, atravessando o país todo, de este a oeste).

Fim de tarde, cinco e meia. O sol punha-se.
A pouca luz, aliada ao facto de estar dentro do carro, em movimento, não permitia grandes fotografias, mas não era isso que me impedia de tentar, pois o motivo assim o exigia. 
Das mais de trinta "tentativas", ficam três, da luz laranjo-rosada que cruzava os ramos dos embondeiros.




Ambiente bonito, mas que não permitia grandes distrações a quem conduz.
O sol de frente, a bater nos olhos. Luz difratada pela neblina e pelos mosquitos esmagados no para-brisas... a provocar imensos acidentes.
Estes dois capotanços estavam separados por apenas 500 metritos...



Há que manter a concentração.
O sol, já vermelho, dizia que estava a dar as últimas...


Mas se as estradas em Angola são, em geral, perigosas (constatação feita pela amostra do número de carros acidentados na beira da estrada), o que dizer dos últimos quilómetros desta viagem?
Os últimos 30 km, essencialmente o troço Viana-Luanda é... absolutamente de loucos!
A estrada tinha sido alcatroada recentemente e não tinha qualquer marcação horizontal. Sinalização vertical, raríssima.
Iluminação inexistente, na maior parte deste troço.
As duas faixas, que deveriam existir, passavam "naturalmente" a três e às vezes a quatro.
Com tudo isto, o trânsito circulava a velocidades bem acima do recomendado... dado o enorme número de pessoas que atravessavam a estrada, em qualquer sítio, de qualquer maneira.
Reduções fortes. Chianços. Algumas batidas entre carros. Via-se de tudo. Ou quase de tudo...
Na altura fiquei com a nítida sensação que deveria ser raro o dia, naquela estrada, que não existissem acidentes mortais. 
Não vi nenhum. Felizmente!
Mas se era assim há 10 anos, estando hoje melhor, acredito, está ainda longe de estar bem. Os relatos e registos dos acidentes são imensos... sendo algo que os responsáveis têm conhecimento, naturalmente.



Chegamos às portas de Luanda de noite escura. Eram 7 da tarde.
A D80 "não sabe" fazer fotografias de noite, mas não quis deixar de registar aqueles momentos.
Estávamos a terminar uma viagem iniciada há quase 12 horas e a última meia hora tinha sido intensa. Nunca tinha sentido tanto medo, não por mim, mas por toda aquela gente que atravessava as estradas...



A estátua de Agostinho Neto voltava a receber-nos.
Chegamos a Luanda.


Estava na altura de descansar e de voltar a introduzir energia, da boa.
Segundo o último registo fotográfico do dia, a paragem foi feita no (extinto?) restaurante Vouzelense.
A esta distância, já não me recordo de lá termos parado neste dia. Lembro-me de lá ter jantado, em noite de supertaça entre Porto e Benfica (no dia 7 de agosto), mas neste dia, não.

Mas se a conversa é comida... que venha o dia seguinte. Desse eu lembro-me bem ;)




03 janeiro 2021

Angola - #8.12

Cinco menos um quarto.

Deixávamos a estrada que nos tinha trazido desde Huambo, a EN120, e entrávamos agora na EN230, que liga Dondo a Luanda.
Faltavam ainda cerca de 180 km e o sol começava a ficar baixo.

Descíamos do Alto Dondo e a primeira impressão era de que esta estrada nacional... mais parecia um caminho local.
A impressão era ainda maior, dado o trânsito de pesados que nela circulava. Camiões muito carregados, a subir, ronceiramente, a forte pendente que separa Dondo do Alto Dondo, obrigando-nos mesmo a sair do asfalto. Talvez estivessem a transportar os necessários cereais para a fábrica da EKA, a cerveja que nascia ali. E ali nascia é mesmo o termo, pois a EKA encerrou portas há uns meses...



Estávamos em Cuanza Norte e o ambiente mudava radicalmente.
Lá "em cima", no planalto central, a altitude não permite a formação daquele nevoeiro tão característico de toda a região nordeste de Angola, de terras bastante planas e encharcadas, próximas do mar e com influência de todos os grandes rios.
A partir dali, do Dondo, com este nevoeiro ou neblina, o cacimbo, as cores mudam muito, no início, meio e fim do dia.
A esta hora, tudo tinha um tom amarelado, às vezes rosado.

Fizemos uma ligeira paragem no Dondo, mesmo junto ao rio.
Uma curtíssima paragem, de 2 minutos, que deu apenas para dois ou três registos na capital do município de Cambambe.

A primeira impressão: não se passa nada por aqui... 
Via-se meia dúzia de pessoas, numa terra aparentemente semiabandonada. Na sua generalidade, a população  do Dondo tem muito poucos recursos. Ainda recentemente, as notícias diziam que nem água potável tinham...



A segunda impressão, que obriga o olhar a passar por cima de muito para lá chegar (...) é da beleza do local.
Junto ao rio, com aquele ambiente, com aquelas cores incríveis, deveria ser possível à sua população viver bem. Deveria!
Mas ao pesquisar sobre o Dondo dá para ver que isso, se aconteceu, aconteceu num período muito, muito curto de toda a sua história...

O único "casarão" que registei estava mesmo ali, em frente ao rio. 
Entretanto em 2017, nasceu um grande hotel, mesmo por trás desta casa, o que são sempre notícias positivas.


A dois quilómetros da "baixa" da cidade, e já nos seus arrabaldes, passa-se à porta do maior complexo industrial de Dondo, a Satec. Na altura não fiz nenhuma fotografia à mesma, pois estava contra o sol, que ia muito baixo.
Fiquei-me pelas habitações, do outro lado da estrada.
Mas quanto mais pesquiso sobre Dondo, menos apetece...
Um complexo gigante, de uma multinacional, visível através do Google maps, que teve um investimento de milhões há meia dúzia de anos, a Satec está... parada.


A linha de comboio, dos Caminhos de Ferro de Luanda, estava a funcionar em agosto de 2010.
Tinha voltado a funcionar naquela altura, depois de... 7 anos de paragem, devido a um descarrilamento. Mas como o comboio também não funcionou entre 1976 e meados dos anos 90, acho que nunca devem ter contado muito com ele.
A última interrupção de funcionamento foi mais curta. Devido a aluimentos da linha, esteve parada desde março a agosto de 2019.
Esta malta do Dondo não tem mesmo sorte nenhuma!...


É melhor seguir caminho!...
Pelo menos a estrada, não estando terminada, apresentava melhoras em relação ao troço anterior.


Ainda fizemos mais duas paragens, para compra de alguma fruta para os dias seguintes.
A primeira, na Praça do Panguila, a 20 km do Dondo.
Uma praça, espécie de feira de produtos alimentícios, que fica à beira da estrada. Dum lado da estrada os produtos agrícolas, do outro os pecuários... in vivo ;)


Os produtos agrícolas estão sempre bem encastelados, à maneira que é comum em toda a Angola.
Mais comuns por ali, pelo menos naquela época, as laranjas e as bananas.
Nestes mercados resultam sempre imagens super coloridas, com pormenores interessantes e curiosos...



Mesmo ao lado, as crianças divertiam-se.
Não deixa de ser um facto, não há vendedores homens nestas feiras. Só mulheres. 
As mães destes pequenotes.


Imediatamente a seguir à feira, o rio Lucala.
Um rio que não conhecia, de nome, mas que tem algo que é mais uma imagem de marca de Angola, eleita uma das 7 maravilhas de Angola, as Quedas de Calandula.
Não deu para passar lá, pois ficam "apenas" a 250 km para o interior, mas deve valer a pena conhecer as antigas Quedas do Duque de Bragança, ficando instalado na antiga, mas recentemente recuperada, pousada.
Mais perto, 30 km a jusante, a foz do Lucala, que desagua no Cuanza, junto a Massangano.

Na imagem, a ponte do caminho de ferro, também ela recuperada pouco antes de termos passado por lá.


Já não me lembro do que é que não havia na feira anterior, mas voltamos a parar, apenas 6 km à frente, na feira de Cossoalala, mais um mercado de beira de estrada.
Enquanto a minha sogra se divertia a procurar e escolher a fruta que faltava, os "modelitos" tiveram direito a pose, ao lado do Toyota Fortuner, lento mas duro e confiável companheiro desta loonga viagem.


O dia já estava a terminar, mas a viagem ainda não.
Faltavam 150 km até Luanda. Era hora de rearrancar, pela última vez...


02 janeiro 2021

Angola - #8.11

Aproximávamos do meio da nossa viagem, de Huambo a Luanda. 
Eram 3 da tarde.



Ainda na província de Cuanza Sul, passávamos numa pequena vila que eu nunca tinha ouvido falar até então, Quibala. 
E agora que penso, acho que nunca mais ouvi falar...

Não conhecia, mas a fotografia seguinte deixou-me curioso. Algo que se assemelhava a um castelo medieval, com as suas muralhas e torres altaneiras, a encimar um valente maciço granítico. 
Ali?...
Fez-me esgravatar um pouco mais a história de Angola para chegar à origem de Quibala.


Conseguir agora não "discorrer" sobre o assunto é difícil, pois apetece. Mas não cabem aqui grandes descrições, pelo que tudo o que referir a seguir vai parecer "levezinho" (parecer... e ser!)
Deixo apenas algumas fontes usadas no meu "estudo". A primeira, a mais académica e muito completa, retrata a "História económico-social de Angola: do período pré-colonial à independência".

Chegar à origem daquela construção, o Forte de Quibala, também não é fácil. 
Todas as fontes são demasiado vagas. Apontam apenas para o final do século XIX, na sequência da segunda fase do colonialismo e da decisão de estabelecimento de população no interior do território.
O forte durou até Portugal ter abandonado o território, ou seja, aproximadamente cem anos de utilização. 
Há dez anos estava em ruínas e parece que não melhorou muito, ainda que em 2017 tenha passado a monumento classificado pelo governo angolano.

Tendo Quibala uma origem bem antiga, a "Quibala portuguesa" cresceu como mais um ponto de passagem e de cruzamento. Dali podemos tomar a estrada para oeste, em direção à costa. A cerca de 160 km fica Sumbe, a capital da província.
E talvez por ser um ponto de cruzamento de estradas, foi absolutamente devastada pela guerra.
As antigas casas e prédios portugueses, tiveram uma vida muito, muito curta...



À semelhança da maioria das localidades de Cuanza Sul, as terras de Quibala são muitos produtivas e a sua população trabalha essencialmente na agricultura ou pecuária.
Mas já era assim no século XX...
Destruído o seu antigo edifício em Quibala, a União dos Agricultores Angolanos continua a existir.


Como em tudo, é preciso olhar para a frente. 
Em pouco mais de 10 anos de paz começaram a haver indicadores de que a melhoria das condições de vida eram possíveis.

Depois de uma paragem para combustível, voltámos à estrada.
A saída de Quibala e as suas longas retas...




Mesmo não sendo autoestrada, o pouco trânsito e as longas retas desta nacional, a EN120, permitem médias muito aceitáveis, a rondar os 110 km/h (temos de esquecer por aqui as imagens dos carros e camiões completamente destruídos, ao longo da estrada...)

Eram 4 e meia e o planalto central angolano tinha ficado para trás.
Passávamos em Cambambe, numa ponte sobre o rio Cuanza que já não existe, ou melhor, que está atualmente submersa.
Em 2017, a conclusão das obras de ampliação da barragem de Cambambe implicou a construção de uma nova ponte. Impressionante, o aumento da produção elétrica, que passou dos 260 para os 960 MW!
Mais impressionante é a nova barragem a jusante de Cambambe, de Caculo Cabaça, a maior de Angola. A albufeira já encheu mas o aproveitamento hidroelétrico ainda não começou. Está previsto para 2024, com 2,2 GW!!!

O Cuanza termina precisamente por ali uma descida bastante acidentada, que o torna inavegável para montante. Se agora é na albufeira de Cambambe, antes desta existir era um pouco "abaixo". Precisamente por esta navegabilidade do rio, era em Cambambe que ficava o "posto mais avançado" da armada portuguesa, construído no início do século XVII, depois dos de Muxima e de Massangano, a jusante. O forte serviu de guarnição militar, presídio e, principalmente, de entreposto de mercadorias, entre elas o principal produto, escravos...

Imagens que ficam para a história, de uma paisagem que já não existe.



O atravessar do rio Cuanza fazia-nos também atravessar a fronteira entre províncias.
De Cuanza Sul passamos para Cuanza Norte.
Faltavam "apenas" 200 km de longas retas, com os Pajero Io (os Pinin lá do sítio) a passar por nós ;)