04 janeiro 2020

Angola - #8.1

Quase 10 anos depois de realizada a viagem..., valerá a pena continuar com a narração?
Claro que sim...
... será?...
Sim! Sem dúvida!

Ainda que com um intervalo tão longo, basta olhar para as fotos, o filme do dia, que as memórias vão surgindo. Algumas muito vívidas, outras nem tanto.
E passado (também) um longo intervalo desde a última entrada sobre este assunto, em dezembro de 2017, apeteceu-me voltar a olhar para as fotografias desta viagem...

A primeira constatação é de que, passados 10 anos, o meu "olhar" não é o mesmo.
O foco da observação cai em pormenores que não me recordo de ter pensado na altura.
A segunda é de que Angola mudou muito. Primeiro para cima, depois para baixo.
Houve melhorias significativas naquela altura, mas nos últimos anos houve fortes retrocessos. Afirmo isto pelas alterações visíveis na comparação entre as minhas fotos e as actuais do Google (aéreas, porque à data não existe Street View em Angola) mas também nas notícias que vou consultando, nas pesquisas sobre os locais que visitei.
Mas o melhor é mesmo começar a narração...

No oitavo dia da nossa viagem despertamos cedo, em Huambo, antiga Nova Lisboa, ... e antes disso, antiga Huambo.
O hotel escolhido, o Ritz Roma, cumpriu para a noite e pequeno almoço, não tendo deixado qualquer memória para relato.



A manhã estava fresca, abaixo dos 20 ºC.
Clima ameno, típico da região centro-angolana, planáltica, "nas alturas". Em Huambo a altitude ronda os 1700 m!
No dia anterior, em Lubango, tinha sido muito semelhante.
Um dia perfeito para a viagem prevista, que ligaria Huambo a Luanda, com uma distância a passar dos 600 km...

As imagens seguintes foram feitas ainda no hotel.
A primeira para a frente, a segunda para trás, para a plataforma aterrada da linha de comboio de Benguela, que estava a ser reconstruída.



A saída do hotel fez-se por volta das 7 e meia e o primeiro objectivo era circular e conhecer alguns dos principais pontos da cidade, bem como os locais onde o meus sogros habitaram, estudaram e trabalharam (ele trabalhava em Angola, em 2010).

A primeira deslocação foi à zona industrial de Chiva, a nordeste do centro da cidade.
Pelo caminho, passagem pela igreja da paróquia de São João, com a sua curiosa torre.


... e por alguns apontamentos Sasukianos :)


A estrada que dá acesso à zona industrial tinha abatido recentemente, quase até meio.
É um ponto que me recordo com muita clareza, pois já na altura achei muito "curiosa" a forma de assinalar o "ligeiro buraco".
Ao explorar agora, verifiquei que o abatimento tinha sido mesmo recente, pois na foto aérea de março de 2010, este ainda não existia...


Abandonado, o 'Grémio do Milho'.
Se tinha ficado com dúvidas, na viagem de Ganda até aqui, se as grandes plantações de cereais que se viam seriam de milho, aqui fiquei esclarecido.
Encerrado, muito provavelmente durante o período da guerra civil, só encontrei registos online sobre ele em fontes dos anos 30 e 40, em notícias e relatórios de produção agrícola da colónia portuguesa.


Um pouco à frente, o nosso primeiro objectivo: a passagem pela fábrica da Cuca (Companhia União de Cervejas de Angola).
Conhecida principalmente por ser a cerveja de Angola, o grupo Cuca, criado por um português, esteve, no entanto, ligado a várias outras áreas, até à produção de óleos essenciais, para perfumes (de vetiver).
Tinha sido ali que a minha sogra trabalhou no início dos anos 70.


Quando lá passamos, a fábrica aparentava estar a funcionar... mas pouco.
Percebi agora porquê. 
Tinha encerrado em 1991 e em 2009 tinha arrancado novamente, em fase de teste.
Apenas em Novembro foi reinaugurada, agora como 'Nova Companhia de Cerveja do Huambo' (NOCEBO). 
 As notícias mais recentes não são, no entanto, nada animadoras... A perda do poder de compra dos angolanos, nos últimos 3 anos, provocou uma perda brutal na produção, sendo apenas de 25% do que já foi.
Como curiosidade, registo ainda o facto de toda a matéria-prima (lúpulo, malte, milho e arroz - à excepção da água, imagino ;) ser importada da Europa e da África do Sul...



Mesmo em frente à Cuca, a fábrica da Coca-cola que, provavelmente, nos seus inícios, pertenceu também ao mesmo grupo, pois também produziam/engarrafavam águas e refrigerantes.


Mesmo ao lado, outro registo que achei interessante, pois naquele dia andava com uma t-shirt com o logótipo da Yamaha: a fábrica de bicicletas e motociclos Ulisses.
Mais uma que estava com aspecto de estar "semi-aberta", o que se confirma.
Reinaugurada em 2003, tinha a produção encerrada, funcionando só como oficina de reparação.
Nesta data, aparentemente está a produzir, mas só bicicletas.


De volta à cidade, pelo mesmo caminho.

Passaram-se 10 anos, mas é impressionante a evolução que verifiquei ter acontecido nesta área, através das fotografias aéreas do Google!

 
Mas é verdade, em 2010, os guindastes de construção já lá estavam montados!






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