Mais uma vez devido à "pressão" de ter que escrever a crónica para o site do Moto Clube do Porto, consegui escrever, em apenas duas semanas ;-) "qualquer coisa".
Aqui fica a "colagem" ;-)
"No primeiro fim-de-semana de Maio, e na impossibilidade do nosso habitual líder, Sérgio Correia, tive o prazer de, pela segunda vez este ano, conduzir a caravana de motos Trail do MCP num passeio fora-de-estrada.
Depois de meia hora de espera por dois retardatários (um deles, o João Pedro Pinheiro, teve problemas e não chegou mesmo a participar), a caravana de 6 motos lá partiu do Porto debaixo de um céu pesado e de fortes bátegas. O objectivo para o primeiro dos dois dias deste passeio era fazer a ligação entre Cerdeirinhas (perto de Vieira do Minho) e Montalegre, usando apenas os estradões das serras da Cabreira e de Barroso.
Chegados a Cerdeirinhas, esperavam-nos o Daniel Oliveira e o Fernando Magalhães, o meu companheiro de reconhecimento. O monte estava perto e estávamos todos cheios de vontade de sujar as nossas Trail. No entanto, a entrada em terra não foi das mais auspiciosas…
O patrocinador do evento, Pedro “Land Parts” Azevedo, com a sua nova e imensa GSA, teve logo ali dois “contactos imediatos” com o tapete. “Problemas de juventude”, como se veio a perceber. O sistema de controlo de tracção da BMW não funciona em pisos soltos e escorregadios, como era o caso.
Desligado o respectivo sistema, lá continuamos pela encosta que nos iria levar a uma das paisagens mais interessantes do passeio, sobre a albufeira da Caniçada e a serra do Gerês.
Mas não chegamos lá sem mais um percalço: a falta de experiência do mais recente membro deste verdadeiro grupo de elite, Rui Rios, não lhe permitiu evitar dois “tomba para o lado” na sua GS 650. Nada de muito anormal em fora-de-estrada, principalmente com o piso escorregadio que se fazia sentir, mas nunca muito agradável!
O mau tempo mantinha-se e, agora, além da chuva tínhamos de navegar por entre um nevoeiro serrado, às vezes com uma visibilidade de apenas 10 m. Pena, principalmente para aqueles que só viram as paisagens pelas fotografias que fiz no reconhecimento. E logo ali surgiu o comentário de alguns dos participantes: “vamos ter que repetir este passeio com tempo limpo!”.
Vamos ter que combinar isso, é verdade!
Estes troços da Cabreira, além das belas paisagens são também uns estradões bem rolantes, onde apetece acelerar “à séria”. Ou melhor, apeteceria, se não fosse o mau tempo…
Depois de uns bons quilómetros efectuados aparecia o primeiro troço alternativo: uma passagem numa calçada romana de dificuldade média-alta. Ali dividimo-nos: metade continuou pelo estradão, metade seguiu pelo empredado. A decisão foi tomada na base da experiência de condução e não na moto. Se a TTransalp estava lá por inerência, além das duas GS 1200 do Pedro e do David Fernandes passou também a VStrom 650 do Miguel Teixeira, provavelmente a mais baixa do lote.
Mas depois da prevista paragem para o reforço da manhã (no Carvalhal do Esporão) surgiu o maior percalço: um “escorreganço” com húmidas consequências. A GSA do Pedro voltou a tombar, mas desta vez dentro de água. A paragem feita nas margens da ribeira do Amial, tinha como objectivo fazer uma fotografia com as motos dentro das margens e em cima do cascalho. Mas não se conseguiu. Em vez de uma curta paragem passamos cerca de uma hora a desmontar os elementos mecânicos necessários para retirar a água sugada para o interior dos cilindros. Como dizia o David: “faz parte!...”
Moto recuperada, lá continuamos.
E o segundo troço com alternativa era logo à frente. Precisamente a passagem a vau da ribeira de Amiar. Sem grandes dificuldades, todos os que tentaram fazer a travessia conseguiram faze-lo.
Mas a BMW é que não estava 100% e, na dúvida, o Pedro resolveu dar por ali terminada a sua participação. Ficou na estrada, a cerca de 4 km de Venda Nova, à espera da assistência em viagem.
E que viagem, esta nossa!
Um pouco à frente, e já para lá da hora prevista de almoço, novo percalço. Desta vez tinha sido o Daniel que, praticamente parado, numa descida estreita e meio complicada, deixou tombar a GS 850, sem conseguir retirar o pé debaixo. O resultado foi uma entorse, que não lhe permitiu a continuação…
Com todos os casos verificados, que fazem realmente parte destes passeios fora-de-estrada, já eram quase 3 da tarde. Era momento de fazer um corte e dirigirmo-nos, directamente por estrada, ao restaurante. O “Albufeira”, em Lama da Missa, mesmo junto à barragem do Alto-Rabagão, esperava-nos.
E se todos, quando lá chegamos, estávamos com forme, muita fome!, não conseguimos terminar a imensa quantidade da excelente comida que nos foi apresentada. Começando com o cozido à portuguesa, passando pelas tripas à moda do Porto e terminando na vitela assada, tudo estava muito bom. Um verdadeiro e geral atascanso à mesa!!
Um restaurante a repetir numa próxima, sem dúvida!
Quando saímos do restaurante já passava das quatro da tarde.
O Daniel, que não tinha recuperado fisicamente, nem à custa do bom tinto da casa, teve mesmo que dar por ali terminado o passeio. E para não voltar sozinho para casa, até porque não conseguia pousar o pé no chão, o Fernando resolveu acompanhá-lo. Já estava previsto não passarem a noite em Montalegre, mas não deixou de ser um abandono prematuro.
Mas o atraso, por uma vez, teve os seus benefícios. Durante o almoço o tempo fechou, ficou escuro, muito escuro, e a bátega assustou. Assustou principalmente os participantes do passeio de estrada, que abandonaram o programa da tarde e dirigiram-se de imediato ao hotel e às suas águas aquecidas e tentadoras.
Mas nós não. Quando saímos do restaurante, agora apenas cinco trailistas, estava um sol radioso. Um sol que não mais deixou de brilhar durante o resto do passeio.
O primeiro ponto de paragem foi “logo ali”, junto da albufeira. Desta vez estávamos avisados: não estacionar dentro de água ;-)
Dos cerca de 20 km que tínhamos para fazer até Montalegre, os primeiros eram por asfalto, num interessante encadeado de curvas em torno da albufeira. Com o sol que agora se fazia sentir, este foi um percurso para saborear. E esta é uma vantagem das Trail: se rolam bem em terra, também o fazem em asfalto.
Entrávamos agora no Parque Nacional da Peneda Gerês. Os estradões que atravessavam os campos agrícolas montalegrenses estavam encharcados e cheios de lama. Delicioso, diria eu, mas o Rui achou que já chegava de terra. Em duas poças de lama, duas escorregadelas maiores e… dois contactos directos com o tapete acastanhado.
Há que fazer uma aprendizagem a pouco e pouco e por esta altura também o cansaço se fazia sentir. Quando cruzamos a primeira estrada passamos a ser apenas 4 motos pois o Rui decidiu seguir pelo asfalto até ao hotel.
A distância para terminar o primeiro dia era já curta mas ainda não tinham terminado as desventuras. Agora, novamente em serra e num troço com alguma areia, em vez de lama, o Pedro Sousa, na sua Varadero, acabou não evitar um espalhanço. Assustou-se com a areia à saída de uma curva e bloqueou a roda da frente.
Tiradas as respectivas lições, pois só quando se enfrentam as dificuldades é que se aprende, lá continuamos.
Continuamos até a um daqueles pontos que ficam na memória durante muito tempo: do alto e no meio de uma vegetação rasteira toda florida, tínhamos uma vista fantástica para sul e para o segundo maior lago português.
Enquanto arrancávamos, novo contratempo: o David percebeu que tinha perdido um dos sacos que transportava. Mas este foi fácil de ultrapassar. Voltamos os dois para trás e encontramos o saco a apenas 2 km.
Por trilhos muito interessantes, no meio de um verde refrescante da serra, chegamos a Montalegre eram 6 e meia. Tempo agora de descansar e de aproveitar as mordomias aquáticas do hotel. Depois de um tempo na piscina, e já acompanhados pelo Ernesto Brochado, passamos quase meia hora na conversa e a destilar no banho turco. Nunca antes tinha passado tanto tempo sob aquelas altas temperaturas. Mas soube bem!!
O jantar, em conjunto com a malta do passeio de estrada, foi já relatado pelo Ernesto. Um convívio muito agradável com outros sócios do Moto Clube do Porto que não conhecia. Um jantar que teve ainda a particularidade de ser em conjunto com a Cruz Vermelha de Montalegre, numa acção de recolha de fundos.
De fininho lá nos escapulimos, bem na altura do início do leilão. Mas também rapidamente nos fomos deitar pois o cansaço acumulado era grande e ainda havia um segundo dia de passeio para aproveitar.
Mas o domingo não acordou de boa cara. Um tecto baixo e cinzento era o que se conseguia ver para fora da janela. Mas se a perspectiva do tempo já não era muito boa, durante o pequeno-almoço a chuva forte começou a cair…
E se o Rui rapidamente decidiu que não estava para enfrentar a intempérie, os restantes ainda estavam na dúvida. Depois de termos “ouvido”, dos passeantes estradistas durante toda a refeição, a decisão foi tomada depois do Ernesto fazer um pequeno briefing e anunciar que iriam passar a manhã por ali mesmo. Que o “passeio sénior” iria ficar abrigado.
Como? Sénior? Não obrigado ;-)
Levantamo-nos os quatro e decidimos seguir o plano.
Estava prevista uma volta pelas terras montalegrenses, por entre montes e vales, atravessando algumas aldeias. Primeiro para nascente, até Vilar de Perdizes. Depois de volta, subindo à serra do Larouco e passando na nascente do rio Cávado.
Quando saímos da garagem caía uma ligeira morrinha. Nada de especial e que parou passados 10 min, para nunca mais voltar. Nem de propósito!
O passeio começou muito bem. Subimos à zona onde estão instaladas as antenas de rádio, TV (e cassete pirata ;-) de Montalegre, com uma vista tipo bird view sobre a cidade.
Cruzamos uns trilhos muito bons que, com a chuva que tinha caído, estavam encharcados e muito diferentes daquilo que eram durante o reconhecimento. Mas até estavam diferentes para melhor. Em determinadas zonas a camada de lama fina era tão escorregadia que as Trail iam permanentemente a deslizar. Incrível. Íamos a gozar à séria!
Mas eis que surge o atraso do dia: um furo na roda da frente da TTransalp.
Nem de propósito, depois do workshop da semana anterior, onde o Ilídio nos mostrou como remendar um furo sem tirar a roda fora.
Depois de verificar que na realidade eram dois furos, e não apenas um, lá conseguimos remendar a câmara-de-ar e voltar a enchê-la. No entanto, como o pneu não foi ao sítio onde devia ficar, bem equilibrado em toda a jante, deixamos ficar uma pressão acima do dobro que devia ter, para tentar que ele se “soltasse” e endireitasse por si. Mas não, isso não chegou a acontecer.
E não se verificou, nem depois do que aconteceu logo a seguir a termos arrancado.
Ia completamente distraído, por um lado por ir a sentir um pneu de “pedra” na frente e, provavelmente, também por ir a olhar para o GPS (não me lembro…).
Quando “acordo”, tinha entrado no rego lateral do caminho. Sendo extremamente estreito e fundo, com um muro de pedra “logo ali”, não consegui sair dele e só parei quando bati numa enorme pedra. Fiquei encostado ao muro e com a moto por cima. Fiquei numa posição que não conseguia sair de lá sozinho. Nem sozinho, nem com a ajuda apenas do Miguel, que vinha atrás de mim e que viu a queda. Viu, mas não percebeu o que aconteceu. O caminho era simples, sem nada que a promovesse. Aparentemente, mas se calhar foi isso mesmo. Em fora-de-estrada (e mesmo em estrada) não nos podemos distrair durante um segundo que seja.
Mais uma vez recuperado, lá seguimos, fazendo um ligeiro corte no percurso para recuperarmos o tempo perdido.
E eis que temos pela frente a maior dificuldade prevista para o dia: a subida à serra do Larouco. Uma subida, não “pela frente”, pelo estradão utilizado pelos parapenters, mas “por trás”, por um trilho mais apertado, mais inclinado e sobretudo mais desafiador.
O Miguel, verdadeiro profissional, fê-lo aparentemente sem dificuldades, mas os outros três não. Eu fiquei parado numa curva de onde tive algumas dificuldades em rearrancar, dado o tipo de piso em pedra solta.
O Pedro ficou uns metros atrás de mim, de onde a Varadero teve grandes dificuldades de arrancar. O David, um pouco mais atrás, teve ainda maiores dificuldades, depois de ter deixado tombar a GS.
Mas chegados ao cume a sensação era das melhores: Conseguimos! Vencemos a dificuldade!
Mas foi uma “celebração” rápida. No alto do Larouco a temperatura era de apenas 5 ºC. Com o vento que se fazia sentir, a sensação era mesmo de frio intenso.
Havia que sair dali rápido, até pela hora. Estávamos já perto da hora de almoço, mas Montalegre estava também ali, “aos nossos pés”.
A partir do almoço entramos em “modo de asfalto” e seguimos o Ernesto e o resto do pessoal do passeio de estrada.
Fizemos uma fantástica visita à aldeia de Paredes do Rio, onde levamos um verdadeiro banho de cultura. Foi qualquer coisa muito diferente daquilo que nos levou a fazer este passeio, mas que valeu muito a pena. Não me alongo muito nesta descrição pois o Ernesto já o fez e muito bem, como sempre.
Seguimos pelo Parque Nacional, desta vez pela estrada, atravessando grandes paisagens e aldeias como Paradela, Cabril, Fafião. E foi precisamente aqui, já perto da barragem de Salamonde, que nos despedimos e seguimos em direcção a casa.
Por mim só tenho que agradecer o companheirismo e entreajuda de todo o pessoal.
Foi um passeio cheio.
Cheio de aventuras e desventuras mas que vai ficar certamente na memória de quem nele participou.
Espero que tenham gostado."