Os dois primeiros dias, passados durante o fim-de-semana, tinham transmitido uma ideia de algum sossego no trânsito da cidade, que contrastava fortemente com a informação de um caos generalizado que se vive por estas terras.
Mas o despertar de segunda-feira revelou uma realidade distinta.
A praça 4 de Fevereiro, em frente ao porto de Luanda, estava atafulhada de carros e com um nível de ruído tal, que as janelas já algo desactualizadas do hotel não conseguia filtrar...
Pelo menos os carros prestavam um colorido diferente à nublada paisagem matinal da marginal, já registada nos dias anteriores.
Mas este não foi dia para a fotografia. As ruas de Luanda não convidam a esta "prática desportiva"!
Ainda saí com o saco da máquina à bandoleira, mas não arrisquei a tirá-la de dentro...
Logo à saída do hotel, junto à baía, há uma série de ministérios do governo. Fiquei rapidamente com a sensação que a atenção necessária para circular pelas ruas teria que "estar ao rubro" quando dois militares, voz grossa e autoritária, de AK47 em punho, mandaram-me "andar, sair daí, rápido!"
... e eu saí... ai não que não sais!....
Assim, apenas a primeira e a última deste conjunto de fotos são mesmo do terceiro dia. As restantes são já do quarto dia, em viajem, feitas do acolhedor interior do carro...
Parecendo que se está num estaleiro de obras, mas parado, para circular nas ruas é preciso um cirandar permanente por entre os carros estacionados à Lagardère, os buracos, os esgotos a céu aberto, os montes de entulho, ...
Por todo o lado se podem ver as "oficinas" de rua, onde repararam qualquer coisa.
Rodas, travões, eixos, motores, .... Tudo desmontado e espalhado pelo chão.
Com que ferramentas? Com que conhecimentos mecânicos?...
Se se diz que o povo português é campeão do desenrascanso, o que dizer então do povo angolano?
A população é jovem. Muito jovem!
A maioria das pessoas, trabalhadores, que se vê pelas ruas têm vintes... trintas.
A esperança de vida em Angola não chega aos 50 anos, mas em Luanda este valor não deve atingir os 40...
Não admira, dadas as condições de saúde que se podem observar.
Uma das coisas que me impressionou bastante neste dia foi ver pessoas a nadar na baía de Luanda, onde o cheiro a esgoto é quase insuportável...
Passa-se ao lado, passo rápido e... está visto!
Não deixa de ser confuso e caótico, mas depois de umas horas a circular começa a perceber-se que nem tudo é mau ou mal cheiroso.
Pelo contrário, há coisas muito interessantes, típicas de África. A maioria destas coisas já conhecia, da TV ou da net, mas assistir ao vivo é sempre diferente.
Os bebés às costas das mães, amarradas com um pano. As coloridas quitandeiras com os seus cestos à cabeça. As maçarocas de milho ou as bananas assadas na beira do passeios (aqui sim, que perfume!).
E aquele típico colorido, azul e branco, .. à Porto!, das Toyota Hiace que fazem o transporte de grande parte da população... num constante e "suave" ronronar.
Saiam da frente!
;-)
Dez minutos para as seis da tarde.
Hora de regressar a casa, mesmo a tempo para registar um pôr do sol diferente.
Vermelho, que se esconde nas brumas do cacimbo.