Cinco menos um quarto.
Deixávamos a estrada que nos tinha trazido desde Huambo, a EN120, e entrávamos agora na EN230, que liga Dondo a Luanda.
Faltavam ainda cerca de 180 km e o sol começava a ficar baixo.
Descíamos do Alto Dondo e a primeira impressão era de que esta estrada nacional... mais parecia um caminho local.
A impressão era ainda maior, dado o trânsito de pesados que nela circulava. Camiões muito carregados, a subir, ronceiramente, a forte pendente que separa Dondo do Alto Dondo, obrigando-nos mesmo a sair do asfalto. Talvez estivessem a transportar os necessários cereais para a fábrica da EKA, a cerveja que nascia ali. E ali nascia é mesmo o termo, pois a
EKA encerrou portas há uns meses...
Estávamos em Cuanza Norte e o ambiente mudava radicalmente.
Lá "em cima", no planalto central, a altitude não permite a formação daquele nevoeiro tão característico de toda a região nordeste de Angola, de terras bastante planas e encharcadas, próximas do mar e com influência de todos os grandes rios.
A partir dali, do Dondo, com este nevoeiro ou neblina,
o cacimbo, as cores mudam muito, no início, meio e fim do dia.
A esta hora, tudo tinha um tom amarelado, às vezes rosado.
Fizemos uma ligeira paragem no Dondo, mesmo junto ao rio.
Uma curtíssima paragem, de 2 minutos, que deu apenas para dois ou três registos na capital do município de Cambambe.
A primeira impressão: não se passa nada por aqui...
Via-se meia dúzia de pessoas, numa terra aparentemente semiabandonada. Na sua generalidade, a população do Dondo tem muito poucos recursos. Ainda recentemente, as
notícias diziam que nem água potável tinham...
A segunda impressão, que obriga o olhar a passar por cima de muito para lá chegar (...) é da beleza do local.
Junto ao rio, com aquele ambiente, com aquelas cores incríveis, deveria ser possível à sua população viver bem. Deveria!
Mas ao pesquisar sobre o Dondo dá para ver que isso, se aconteceu, aconteceu num período muito, muito curto de toda a sua história...
O único "casarão" que registei estava mesmo ali, em frente ao rio.
Entretanto em 2017, nasceu um
grande hotel, mesmo por trás desta casa, o que são sempre notícias positivas.
A dois quilómetros da "baixa" da cidade, e já nos seus arrabaldes, passa-se à porta do maior complexo industrial de Dondo, a
Satec. Na altura não fiz nenhuma fotografia à mesma, pois estava contra o sol, que ia muito baixo.
Fiquei-me pelas habitações, do outro lado da estrada.
Mas quanto mais pesquiso sobre Dondo, menos apetece...
Um complexo gigante, de uma multinacional, visível através do Google maps, que teve um investimento de milhões há meia dúzia de anos, a
Satec está... parada.
A
linha de comboio, dos Caminhos de Ferro de Luanda, estava a funcionar em agosto de 2010.
Tinha voltado a funcionar naquela altura, depois de... 7 anos de paragem, devido a um descarrilamento. Mas como o comboio também não funcionou entre 1976 e meados dos anos 90, acho que nunca devem ter contado muito com ele.
A última interrupção de funcionamento foi mais curta. Devido a aluimentos da linha,
esteve parada desde março a agosto de 2019.
Esta malta do Dondo não tem mesmo sorte nenhuma!...
É melhor seguir caminho!...
Pelo menos a estrada, não estando terminada, apresentava melhoras em relação ao troço anterior.
Ainda fizemos mais duas paragens, para compra de alguma fruta para os dias seguintes.
Uma praça, espécie de feira de produtos alimentícios, que fica à beira da estrada. Dum lado da estrada os produtos agrícolas, do outro os pecuários... in vivo ;)
Os produtos agrícolas estão sempre bem encastelados, à maneira que é comum em toda a Angola.
Mais comuns por ali, pelo menos naquela época, as laranjas e as bananas.
Nestes mercados resultam sempre imagens super coloridas, com pormenores interessantes e curiosos...
Mesmo ao lado, as crianças divertiam-se.
Não deixa de ser um facto, não há vendedores homens nestas feiras. Só mulheres.
As mães destes pequenotes.
Imediatamente a seguir à feira, o rio Lucala.
Um rio que não conhecia, de nome, mas que tem algo que é mais uma imagem de marca de Angola, eleita uma das 7 maravilhas de Angola, as
Quedas de Calandula.
Não deu para passar lá, pois ficam "apenas" a 250 km para o interior, mas deve valer a pena conhecer as antigas Quedas do Duque de Bragança, ficando instalado na antiga, mas recentemente recuperada,
pousada.
Mais perto, 30 km a jusante, a foz do Lucala, que desagua no Cuanza, junto a Massangano.
Na imagem, a ponte do caminho de ferro, também ela
recuperada pouco antes de termos passado por lá.
Já não me lembro do que é que não havia na feira anterior, mas voltamos a parar, apenas 6 km à frente, na feira de Cossoalala, mais um mercado de beira de estrada.
Enquanto a minha sogra se divertia a procurar e escolher a fruta que faltava, os "modelitos" tiveram direito a pose, ao lado do
Toyota Fortuner, lento mas duro e confiável companheiro desta loonga viagem.
O dia já estava a terminar, mas a viagem ainda não.
Faltavam 150 km até Luanda. Era hora de rearrancar, pela última vez...